O BECO NOVO NUM DIA DE GALA.

Por Manoel Aelson Gois
 
 
 
É bem verdade que cada rua de cada cidade carrega em si uma vasta história em sua trajetória. E o Beco Novo, atualmente rua coronel Sebrão, não é diferente das suas demais irmãs. Para aqueles que não conhecem a cidade de Itabaiana, ou para seus filhos mais jovens é relevante destacar que toda a vida futebolística da cidade girava ao seu redor. Uma vez que até o dia 7 de março de 1971, data da inauguração do estádio presidente Médici, para ter acesso aos campos de futebol existentes na cidade serrana, necessariamente, as pessoas tinham que trafegar pelo Beco Novo. Pois os três campos disponíveis à época ficavam localizados no final da rua, no bairro Cruzeiro, eram eles: o campo de Mané Barraca, campo do Cantagalo e o Etelvino Mendonça, este propriedade da Associação Olímpica de Itabaiana. Nesses três espaços muitos atletas de futebol de qualidade nasceram, despontaram e brilharam nessa modalidade esportiva.
Mas existe um dia que nunca será apagado da memória dos moradores do Beco Novo, bem como da população itabaianense. A data é 28 de agosto de 1969, data de grande importância política na qual se comemora a mudança de Itabaiana da categoria de vila para a categoria de cidade. Contudo, nesse dia o Beco Novo não estava em festa por esse motivo. A razão maior da agitação era o jogo decisivo do campeonato sergipano de futebol de 1969.
Naquele dia duplamente festivo, política e esportivamente, todas as vias desaguavam no Beco Novo. Não era um domingo que é dia de futebol, era uma quinta-feira e feriado municipal. Então, a partir da chegada da aurora com os seus primeiros raios de sol o Beco Novo iniciava a sua movimentação, seus moradores com o auxílio de amigos de ruas adjacentes iniciavam a ornamentação que iria transformar aquele logradouro, desde o seu nascedouro o oitão da Igreja Matriz até a proximidade do estádio Etelvino Mendonça, numa bela passarela. E assim foi feito, bandeiras com as cores azul, vermelho e branco foram hasteadas em quase todas as janelas, bandeirolas tricolores coloriam toda extensão da rua, e um enorme e contínuo movimento de pessoas desde as primeiras horas do dia alegrava a passarela.
Era a rua coronel Sebrão, o Beco Novo, em seu traje de gala, pronta para mais um baile de seu time do coração: Associação Olímpica de Itabaiana. Única via de acesso ao campo de jogo, o velho estádio Etelvino Mendonça, longa e estreita, sempre serviu de palco para os carnavais das vitórias, e das lamentações após as derrotas. Por ela tinham que passar os times adversários, os árbitros da partida, bem como a equipe local. Para os dois primeiros a entrada era quase sempre tranquila; porém, após uma derrota da Olímpica de Itabaiana, ou depois de algum erro, grave ou não da arbitragem, a saída não era das mais amistosas.
Entretanto, naquele 28 de agosto de 1969 o Beco Novo só tinha espaço para a alegria, a Associação Olímpica de Itabaiana derrotou o Olímpico Esporte Clube, de Aracaju, por 2 a 1 com dois gols de Horácio, e sagrou-se campeã sergipana de futebol seu primeiro título como time profissional. Assim o carnaval que começou desde cedo no Beco Novo espalhou-se por toda cidade, rico abraçando pobre, branco beijando negro, patrão bebendo com o empregado, a elite misturada com o operário. Até os adversários políticos choraram juntos de alegria, de regozijo. As diferenças econômicas, sociais, culturais, políticas, todas elas desapareceram com o final do jogo e com o Itabaiana campeão sergipano. A igualdade estava presente em cada botequim, em cada gole bebido de cerveja ou de cachaça, nas calçadas e em cada esquina.
Por falar em esquina nesse dia eu também estava em uma, no alto dos meus nove anos assim que terminou o jogo corri para a esquina da rua do Sol com o Beco Novo, em frente ao bar de João Criano, que o dia todo estava repletado de gente com copos nas mãos bebendo, naquele momento continuavam  bebendo e agora relatavam alguns lances importantes daquele jogo inesquecível. Fiquei encostado num poste de madeira da rede elétrica esperando a caravana da alegria passar, não demorou muito e assisti o desfile do bloco dos foliões da vitória se arrastando pelo Beco Novo e dispersando na praça Fausto Cardoso. Depois passou o time adversário, em seguida vinham os atletas campeões ovacionados, aplaudidos efusivamente pelas pessoas que se espremiam nas calçadas, nas janelas e nas portas das casas.
Ainda guardo essas lembranças do meu tempo de menino.

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